Chidi, Eleanor, e os paradoxos de The Good Place
Afinal, alguém merece o Paraíso?
Eleanor Shellstrop morre e vai parar no Paraíso. Parece a história perfeita de vida após a morte –, mas só parece mesmo. O problema? Ela não é uma boa pessoa e não deveria estar lá. Inclusive, a galera da “produção” do paraíso decorou sua casa com imagens de palhaços, aos quais Eleanor tem horror.
Desesperada por ajuda, ela encontra em sua alma-gêmea (sim! Existem almas-gêmeas no Paraíso retratado em The Good Place). Chidi Anagoyne foi, durante sua vida na Terra, um professor de Ética. Ele jura proteger o segredo de Eleanor e a ensinar a ser uma pessoa melhor.
Após estudar Immanuel Kant, Martin Heidegger, Thomas Scanlon e outros filósofos proeminentes, Eleanor realmente começa a ter um “progresso ético”: ela pensa mais no bem-estar dos outros e entende que as razões que impulsionam um ato são tão importantes quanto o ato em si.
SPOILER ALERT!
Graças à Chidi, Eleanor está no caminho para ser uma boa pessoa. No entanto, outro problema surge: na realidade, Eleanor, Chidi e mais outros dois humanos não estão no Paraíso. Eles estão em um projeto experimental de Lugar Ruim (The Bad Place! Muhahaha), que proporciona tortura psicológica ao invés da “boa e velha” tortura física.
Para o espectador, é fácil entender por que Eleanor está no Lugar Ruim. Mas, e quanto à Chidi? Não é ele uma boa pessoa? De acordo com os registros, não. Sua obsessão pela análise minuciosa de cada situação deixou muitas pessoas feridas ao seu redor, e isso já foi mais que suficiente para bani-lo do Paraíso. O irônico é que seus “pecados” consistem apenas em tentativas de ser bom, moral, ético.
Chidi Anagoyne é, portanto, um personagem paradoxal: bom e mau ao mesmo tempo. Ele é o retrato dos humanos que procuram ser melhores, mas parecem estar correndo atrás do vento — como diria o autor de Eclesiastes. Sob a ótica da Ética Cristã, tanto Chidi quanto Eleanor mereceriam o Lugar Ruim, pois nasceram pecadores; no entanto, quem tivesse aceitado a revelação Divina de alguma maneira teria sido justificado pela morte de Cristo. Enquanto a Ética Cristã nos mostra que nem tudo em nosso comportamento é preto e branco, The Good Place argumenta que é impossível para um humano — mesmo tão bom quanto Chidi — merecer o Paraíso. E é por isso que a Ética Cristã é mais que interessante: ela provê esperança até pra quem tirou o resultado “Você é gente boa para c@#$I%*!” no teste “Você é bom ou mau, de acordo com The Good Place” da Revista Galileu.